A cada nova banalidade, as emissoras de televisão do país se aproveitam do drama da situação, para, com isso, ganhar o interesse do público e, consequentemente, aumentarem suas audiências.
Um fato recente que podemos citar como exemplo foi o caso de Isabella Nardoni, atirada da janela do apartamento onde morava pelo pai e após sua morte está até hoje sob julgamento. Na ocasião, diariamente os telejornais abordavam sobre o assunto, cada um do seu jeito, tentando ver quem conseguiria transformar melhor aquele caso em mais que notícia, mas sim entretenimento.
Como era de se esperar, ele logo foi abafado pela mídia e as pessoas hoje talvez nem se lembrem mais (brasileiro costuma ter memória fraca é o que dizem). Na semana passada apareceu a nova menina-dos-olhos da televisão, que já estava sem ter um tema de peso para abordar.
Trata-se do sequestro de Eloá Cristina, mantida refém dentro da própria casa pelo ex-namorado, Lindemberg Alves, por mais de cem horas durando cinco dias na cidade de Santo André, no ABC paulista. A tragédia não poderia terminar de maneira pior. Com Eloá recebendo dois tiros, sendo um na cabeça e outro na virilha e vindo a falecer. Nayara Silva, amiga de Eloá que também estava na casa, recebera um tiro na boca, mas não corre risco de morte.
O que pôde ser observado pelo Brasil inteiro, foi a ampla cobertura dada pelos veículos de comunicação a mais um trágico acontecimento. Nada de anormal, afinal de contas, o papel do jornalismo é justamente este, estar em cima dos fatos. Mas a questão que se levanta é até que ponto essa cobertura foi isenta, transparente e sem querer se aproveitar dos fatos para levantarem sua audiência? Difícil de responder. Praticamente todas as emissoras tiveram o seu minuto de fama falando a respeito do caso. Alguns canais fechados de notícia estavam com link ao vivo, transmitindo o drama da vida real 24h por dia. Passou a virar um espetáculo de horrores.
Começaram a tratar o seqüestrador Lindemberg, como se fosse uma estrela. Houve até entrevista via celular dada pelo rapaz de 22 anos. A polícia, diga-se a bem da verdade, demorou demais até tomar uma atitude. E ainda se queimou completamente ao devolver a menina Nayara, que havia sido libertada, de volta ao local onde estava ocorrendo o sequestro. No entanto, a imprensa pouco fez para impedir ou até mesmo incitar a iniciativa de uma atitude por parte das autoridades competentes pela segurança no estado de São Paulo. Em outros países a mídia tem muito mais influência. Houve o Showrnalismo, não o Jornalismo. A cada dia novas informações, uma mais mirabolante que a outra, eram levantadas, pautas frias sobre um acontecimento quente.
O que se viu foi uma ampla exposição de todos os personagens envolvidos, o que de algum modo, certamente acabou complicando ainda mais nas negociações, uma vez que as pessoas dentro da casa, tanto Lindemberg quanto suas vítimas, através da televisão ou até mesmo do rádio, passaram a saber cada passo dado pela polícia e quais seriam os próximos procedimentos. O resultado disso tudo foi um desfecho atrapalhado por parte dos policiais e vendo a tragédia em que terminara o caso, a imprensa passou a buscar os culpados, sendo o mais lógico apontar a PM de São Paulo, quando na verdade foram vários fatores que culminaram para que isso ocorresse.
De quem na verdade foi a culpa? Da polícia? De Lindemberg? Da imprensa? Os crimes passionais costumam ser imprevisíveis e todos esses meios citados, teriam sua parcela de culpa. A ampla visualização foi comprovada no enterro de Eloá, que teve todos seus órgãos doados a pedido da família. Cerca de 12 mil pessoas compareceram ao funeral. Evidentemente nem a metade desse número sequer a conhecia pessoalmente, mas estavam lá, pois era "a moça sequestrada da TV". E o pior de tudo é que logo terão esquecido que um dia, uma jovem garota de 15 anos fora assassinada pelo ex-namorado, no entanto ficaram sintonizados por uma semana a todas as informações que foram passadas pela televisão.
Quantas Eloás, Nayaras e Lindembergs existem pelo Brasil todos os dias? Seria humanamente impossível a cobertura de todos os acontecimentos, mas já que a os veículos de comunicação precisam se apegar em um para chamarem a atenção, eles o fazem da melhor e mais apelativa maneira possível.